Jornal de Notícias
por Leonor Paiva Watson

«A instabilidade
vivida nas escolas, o elevado número de alunos por turma e os próprios
critérios de correção dos exames nacionais são as razões apontadas por
especialistas para o descalabro das notas.
Ou são negativas
ou são positivas baixinhas. As notas dos exames nacionais, seja qual for
o ano ou a disciplina, dão o que pensar (ver a tabela ao lado). As
causas - apontam aqueles que estão no terreno com os alunos - são
pontuais e estruturais.
Jorge Ascenção, da Confederação Nacional
das Associações de Pais (Confap), diz que, para começar, "os critérios
de correção das provas são apertados e que muitas vezes se invalidam
respostas que estão certas por causa de pormenores".
Concretamente,
"houve um exame em que se perguntava o modo e o tempo de um determinado
verbo. Todos os alunos que responderam que estava no presente do
indicativo estavam certos mas viram as suas respostas serem cortadas,
porque deveriam ter escrito que o verbo estava no indicativo e no
presente, ou seja, ao contrário", exemplificou. Para o presidente da
Confap, "isto é ridículo e não serve para avaliar conhecimentos. Não
serve, aliás, para nada".
Adalmiro Fonseca, presidente da
Associação Nacional de Diretores dos Agrupamentos das Escolas Públicas
(ANDAEP), corrobora esta versão e conta que "os professores estão
devastados, porque são obrigados a invalidar respostas certas". Aquele
responsável avisa que "é preciso bom senso".
Falta de estabilidade
As
associações avançam ainda com outras razões, como, por exemplo, a falta
de estabilidade vivida nas escolas. Jaime Carvalho e Silva, da
Associação de Professores de Matemática (APM), afirma que, "neste
momento, os professores ainda não têm os manuais de acordo com os novos
programas (para o básico), sendo que não podem preparar as suas aulas".
"Isto
para não falar do facto de haver muitos docentes que a esta altura nem
sequer sabem para onde vão lecionar e que anos vão lecionar". Para Jaime
Carvalho e Silva, "é preciso investir-se na medida do que se exige".
Já
Edviges Antunes, presidente dos Professores de Português (APP),
aproveita a oportunidade para alertar para "o elevado número de alunos
por turma" e esclarecer que "é incomportável para um professor ter 30
alunos numa sala, porque não vai dar a atenção que deveria a cada um". A
líder da APP refere ainda o dilema em que vivem os professores que "ora
cumprem o programa, ora cumprem as metas".
Paulo Guinote, autor
do blogue "A Educação do meu umbigo", recorda também que "todos os anos
há alterações, seja de programas, de metas, ou de aspetos da elaboração
dos exames". Defende o docente que "tudo isto gera instabilidade para os
docentes e para os alunos".»